Superproteção X Autonomia



Criamos nossos filhos para o mundo, ou pelo menos, esse deveria ser o maior objetivo dos pais. Para isso, porém, é preciso criar as crianças com liberdade suficiente para que se desenvolvam com autonomia, sendo esta entendida como a capacidade de fazer escolhas, aceitar limites e reconhecer erros.

A proteção da prole é característica fortemente presente no meio animal, e visa possibilitar a sobrevivência da espécie. Entre nós, humanos, é, ainda, característica desenvolvida social e culturalmente, estando presente inclusive em nossa legislação.

Os filhos precisam da proteção dos pais, tanto quanto precisam de liberdade. Dosar as duas coisas, é o possibilitará a criança um desenvolvimento saudável. É tendo contato com os vírus e bactérias presentes no meio ambiente que adquirimos imunidade; é errando que aprendemos a acertar e a nos responsabilizarmos por nossos erros; é através da frustração que aprendemos que não somos mais importantes que os outros, e adquirimos o amadurecimento emocional que nos possibilita viver em sociedade. Ao agirem de maneira superprotetora, os pais prejudicam, e até mesmo impedem o desenvolvimento da autonomia em seus filhos, tão essencial para que se tornem adultos saudáveis e seguros de si. 

O fato é que pais superprotetores podem causar tantos danos aos filhos quanto pais negligentes.

Não permitir que a criança se exponha a nenhum tipo de risco; fazer por ela atividades que ela já consegue realizar; não torná-la responsável pelo cuidado com suas coisas; fazer todas as suas vontades; poupá-la de frustrações; interferir em suas atividades escolares e em seus relacionamentos com colegas... Todas essas atitudes - e muitas outras - vistas por vezes pelos pais como naturais e resultantes do zelo pelo bem estar dos pequenos, podem resultar em grandes prejuízos ao amadurecimento emocional dos filhos, o que poderá resultar em adultos inseguros, dependentes, incapazes de tomar suas próprias decisões e iniciativas, egoístas e incapazes de assumir responsabilidade por suas próprias atitudes.

Criar os filhos para o mundo é educa-los de maneira que sintam-se capazes e seguros para lidar com os perigos e adversidades existentes no mundo em que vivemos. É formá-los para que sejam capazes de superar seus problemas e erros, para que tenham confiança em si mesmos, e saibam correr atrás de seus sonhos e desejos, superando as frustrações que encontrarão pelo caminho.

Para que isso ocorra, é necessário que a criança, aos poucos, vá conhecendo os perigos e aprendendo a superá-los; que passe por situações difíceis e seja encorajada a prosseguir e confiar em sua capacidade; que aprenda a responsabilizar-se por si mesmo e por suas coisas, e também por seus erros e pela maneira como irá consertá-los; é necessário que descubra que às vezes as coisas não são como queremos, às vezes coisas ruins acontecem, e que ela terá que aprender a lidar com isso. Para isso, é necessário que os pequenos recebam acolhimento e proteção, mas também encorajamento, liberdade e responsabilidade.

Criar um filho autônomo é ir tornando-se desnecessário, e talvez por isso seja tão difícil. É preciso que os pais confiem, porém, que tornar-se desnecessário não significa que se tornarão indesejados ou menos queridos por seus filhos. 
 


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