A MORTE


Como prometido, essa semana escreverei sobre a morte; assunto frequentemente temido e evitado, mas que, no final, trata-se a única certeza que todos nós podemos ter:

Vamos morrer! Nossa morte pode estar próxima, pode estar distante, mas todos nós, um dia, morreremos.

Então porque este tema é tabu? Não deveria ser exatamente o contrário? Não deveríamos falar e pensar sobre isso com frequência? Não deveríamos nos preparar para este momento tão importante, ou, ao menos, encará-lo como algo natural?

Na pré-história, a morte era encarada dessa maneira: como parte de um ciclo.

É na Antiguidade, que que surge o medo da morte. São quando as religiões se estruturam que advém o medo do julgamento final, e consequentemente o medo do morrer, e, apesar de ainda ser tratada como algo a ser respeitado e encarado como natural, a morte passa também a ser temida.

O Iluminismo e o Positivismo tiram definitivamente, a morte do âmbito das coisas naturais, que devem ser vivenciadas. O materialismo traz a idéia da morte de Deus, da alma e da posibilidade de transcêndencia, tendo consequência o medo do aniquilamento.

O real é a ciência, é o que pode ser provado, e a ciência se desenvolve trazendo com elas os hospitais. Assim, a doença, a morte, saem da rotina do lar. Lugar de doente é no hospital, onde tudo pode ser feito para salvar sua vida, onde a "feiúra" de estar doente é escondida, onde o fardo dos cuidados passam para as mãos de profissionais qualificados para salvarem vidas.

E a morte agora é algo da qual o indíviduo deve ser salvo a qualquer custo. Tratamentos invasivos em um ambiente impessoal e pouco acolhedor, com profissionais, muitas vezes, tão despreparados para lidar com seu próprio medo da morte e com a quebra de seu sentimento de onipotência, que defendem-se no tecnicismo, na relação distante e fria, numa relação médico-paciente que esquece que a medicina é, acima de tudo, sobre cuidar, e que cuidar vai muito além de curar.

E no meio disso nos encontramos. Numa sociedade que esconde e teme a morte. Numa sociedade que não fala sobre isso, pois "atrai". Numa sociedade na qual os próprios profissíonais das área de saúde não estudam a morte, não aprendem a trabalhar seus sentimentos a respeito dela.

Tem que ser assim?

Mesmo planeta, mesma época, e, em culturas orientais a morte é o ponto central da vida. Vive-se em função dela, e o bem viver torna-se o bem morrer. Eles estão errados?

Independente de religiões, ou da crença ou não na transcendência,ou seja, em uma vida após a morte (qualquer que seja ela), não é o bem viver também o bem morrer? Não deveríamos todos buscar tocar nossas vidas de forma que, quando chegarmos no inevitável momento de nossa morte, possamos fechar nossos olhos tranquilamente com a certeza do dever cumprido, do trabalho bem feito, de uma vida sem arrependimentos?

Não devíamos todos sermos ensinados a pensar na morte com frequência, e nos lembrarmos que não sabemos o momento em que ela chegará, e, talvez, não tenhamos tempo de nos prepararmos para ela?

Não seria mais fácil encararmos ela de frente, para que no momento que ela chegue nosso pensamento seja: "valeu a pena", e no momento em que chegue para nossos amigos e familiares estejamos todos mais preparados para lidar com a dor da perda?

A morte não é algo que deva ser procurado; é importante que saibamos valorizar a vida. Mas tão pouco ela é algo que poderá ser evitado, e morrer não precisa ser algo feio, assustador, impessoal e frio. Quando a morte não é tabu, pode-se finalmente pensar e buscar um bom morrer, através de um bem viver... dos muitos ou poucos dias que se tem pela frente... quem vai saber?

Deixo vocês com um vídeo que vale muito a pena ser visto:


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